O envelhecimento é uma etapa da vida que vem recebendo destaque nos últimos anos por vários profissionais da saúde, tendo em vista que as pessoas estão vivendo por mais tempo. Pelos pesquisadores e estudiosos da área, é considerado um acontecimento natural, que faz parte do desenvolvimento humano. No entanto, não se pode negar que é uma fase que traz uma série de modificações no cotidiano da pessoa, com mudanças sociais, comportamentais, psíquicas, entre diversas outras alterações.
Dessa forma, o envelhecimento traz aos indivíduos alterações naturais e patológicas. A principal característica desse período é a chegada da aposentadoria, com mudanças nos papéis profissionais, renda familiar e status social. Muitas vezes vem associada a uma limitação física ou dificuldades de saúde, que acarretam em menor autonomia e independência. Há também uma mudança no contexto familiar e uma reconfiguração dos papéis entre os membros da família, no qual o idoso pode ter também um papel mais passivo.
Há uma diferença na maneira como os idosos encaram a velhice e essa percepção pode, sem dúvida, determinar a forma como cada um irá viver essa fase.
Assim, há aqueles idosos que vivem o “desligamento”, ou seja, se distanciam de suas atividades e dos familiares, amigos e colegas de profissão. Por outro lado, existem aqueles que veem a velhice de uma forma mais positiva. Continuam com alguma atividade profissional, fazem atividades físicas e tem atividades de lazer e sociais. Para esses últimos não há o “desligamento”, há sim uma mudança de tarefas, mudanças físicas, psíquicas e nos relacionamentos, mas há maior pela aceitação dessas transformações.
Certamente, para esses que vivenciam a velhice de forma mais positiva apresentarão maior possibilidade de experimentar emoções positivas como alegria, orgulho, animo e motivação.
E os que veem a velhice mais negativamente, terão mais chances de vivenciar emoções negativas, como tristeza, ansiedade, culpa, entre outros. Nota-se que as percepções, crenças, pensamentos, sentimentos nesse período são primordiais para uma boa qualidade de vida no envelhecer. A saúde emocional ou mental do idoso desempenha um papel importantíssimo no processo de envelhecer com qualidade.
Por ser uma fase associada a tantas mudanças, o idoso fica mais vulnerável e suscetível as experiências emocionais negativas e transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
O número de idosos com problemas como ansiedade e depressão tem aumentado a cada ano, o que por sua vez acarreta em um aumento também na procura por serviços de saúde mental, seja pelo próprio idoso ou por alguém de sua família.
A ansiedade é muito comum na velhice e seus sintomas se caracterizam por uma visão distorcida da realidade e das situações do dia-a-dia. Normalmente apresentam uma ideia catastrófica dos acontecimentos, pensando que algo perigoso ou ameaçador pode acontecer. Pensamentos catastróficos relacionados as questões sociais, financeiras e físicas são bem comuns, como: “As pessoas vão se afastar de mim. Vou ficar sozinho” ou “e se não conseguir pagar as contas esse mês” ou “o que acontecerá daqui para frente em relação a minha saúde?” Esses são apenas alguns exemplos de cognições frequentes na velhice e que geram ansiedade, comprometendo a qualidade de vida do idoso.
Nota-se na prática, que dificilmente a ansiedade se apresenta como um transtorno isolado. Frequentemente vem associada a outros problemas, em especial a depressão.
O diagnóstico da depressão, no idoso, é ainda mais complexo, uma vez que se trata de uma fase em que o próprio processo de envelhecimento apresenta algumas características semelhantes aos sintomas depressivos, o que conduz à confusão no diagnóstico. O médico tem um papel muito importante na identificação e encaminhamento desse paciente, já que consultas médicas são frequentes nesse período. O médico acaba tendo mais chance de ver esse paciente com mais frequência e com isso perceber que algo não está bem.
No caso da depressão, os sintomas são: tristeza; falta de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia; perda ou ganho de peso; insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimento de inutilidade ou de culpa; indecisão e dificuldade de concentração; pensamentos de morte ou tentativas de suicídio. Em termos cognitivos, o idoso apresenta uma visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro.
Pensamentos relacionados à inutilidade, desvalor, impotência e fracasso são comuns, acentuando o quadro de depressão.
Em um estudo conduzido por mim e outros pesquisadores (Oliveira, Santos, Cruvinel e Neri, 2006*) foi possível observar uma associação entre ansiedade, depressão e desesperança, sendo que ansiedade e depressão foi mais elevado que desesperança. E a taxa de ansiedade entre os idosos estudados foi mais alta que os sintomas depressivos. Altos níveis de ansiedade revelam que esses idosos apresentavam uma visão negativa do futuro, bem como poucas perspectivas em relação a própria vida. O sentimento de incerteza e instabilidade em relação ao futuro é constante, daí o aparecimento de sintomas ansiosos. Comprovamos também a importância das atividades físicas e sociais como sendo um hábito de vida. A prática de exercícios físicos, (nesta pesquisa, o exercício mais comum foi a caminhada) e a participação de eventos sociais servem para manter uma boa saúde física e psicológica, além de promover maior aceitação do envelhecimento e uma visão de o mesmo faz parte da vida.
Finalizando, a velhice pode ter um desenvolvimento natural ou patológico, devido aos inúmeros fatores de risco presentes nessa fase.
Para administrar, ou até mesmo prevenir problemas de ordem psicológica, a Terapia Cognitiva tem sido um modelo de psicoterapia bastante consistente. O foco desta psicoterapia são as situações do presente, visando maior aceitação de algumas situações e mudanças de outras. O objetivo é melhorar as atividades diárias, aumentar a motivação e o prazer nas tarefas, ajuda-los no relacionamento com amigos e familiares, de maneira que possa ter mais qualidade de vida nesse período.
Espero que este texto possa trazer algumas reflexões para você!!! Abraços!
*OLIVEIRA, Katya Luciane de; SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos; CRUVINEL, Miriam and NERI, Anita Liberalesso. Relação entre ansiedade, depressão e desesperança entre grupos de idosos. Psicol. estud. [online]. 2006, vol.11, n.2 [cited 2019-06-24], pp.351-359.